Numa altura em que a sociedade assiste ao declínio dos políticos
de um modo geral, preocupam-me duas situações no âmbito das autárquicas 2013:
as escolhas em circuito fechado e a polivalência dos nossos políticos!
Em Ponte de Lima, o PSD anunciou a 5ª escolha como cabeça de lista
à CM, o Eng.º Manuel Barros, após ter tornado públicos os convites à Sra.
Presidente da Adega Cooperativa de Ponte de Lima, Dra. Celeste Patrocínio, ao
professor José António Silva, ao farmacêutico Mário Leitão e ao professor Pedro
Ligeiro. Como cabeça de lista à Assembleia Municipal, a escolha recaiu no Dr.
Alípio Matos, um “Histórico militante do PSD de Ponte de Lima” que “já
desempenhou várias funções de liderança dentro do partido a nível local e
regional”. Por fim, recebemos a comunicação que o mandatário é o Dr. António
Martins, economista que foi deputado da nação durante 12 anos, eleito pelo
círculo Viana do Castelo, ex-vereador da Câmara Municipal de Ponte de Lima e atual
da de Viana do Castelo, tendo sido ainda secretário-geral adjunto do partido
durante vários anos, entre outros cargos e funções no PSD. Enfim, todos com um
almejado currículo partidário.
Estamos perante escolhas em circuito fechado, sem vontade de
agarrar um projeto inovador, e estamos, de facto, perante filhos do partido que
se mostram sempre disponíveis para servir o partido, quando as causas e as
pessoas deveriam estar em primeiro lugar.
Apesar do slogan da candidatura do PSD de Ponte de Lima ser “A mudança
tem de acontecer”, certo é que as personalidades entretanto anunciadas, no
exercício de várias funções partidárias, nem sempre assumiram uma postura de
verdadeira oposição ao poder local instituído, tendo várias vezes andado de
braço dado com esse poder.
Continua também a merecer preocupação a polivalência dos nossos
políticos, não só porque servem para tudo, mas também por ser arriscado
perderem-se deputados com reputação e serviço demonstrados, próximos de quem os
elegeu.
Afinal qual será a verdadeira especialidade destes candidatos?
Como explicar que aqueles que eram os melhores para as legislativas,
representando as pessoas na AR, demonstrem, agora, vontade de abandonar um
mandato a meio e sejam também os melhores para as autárquicas? Deveriam
consolidar a sua missão como deputados da nação? Será bem apreciada pelos
eleitores a disponibilidade para tanto serviço, tendo como objectivo a liderança
nos seus concelhos?
A estas e as outras questões, os dois primeiros eleitos pelo PSD
no círculo eleitoral de Viana do Castelo, agora candidatos às Câmaras
Municipais de Vila Nova de Gaia e de Viana do Castelo, certamente responderão.
No meio de tanto desemprego, é preocupante assistirmos à
profissionalização dos políticos, pois assistimos à massificação de cidadãos
talhados para uma nova profissão, a de Presidentes de Câmara. Paralelamente a
esta situação, assistimos a escolhas em circuito fechado, numa altura em que as
pessoas sentem a necessidade cada vez maior de abrir os partidos a outras
individualidades da sociedade civil.
Assistimos, impávidos e serenos, por Portugal inteiro, à primeira
leva de uma geração de políticos profissionais e isto, em nada, beneficia a
democracia.
Texto publicado na Rev. "Altominho", no dia 31 de julho de 2013