quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

A virtual Escola

Regressamos ao ENSINO A DISTÂNCIA (E@D), como era expectável. Na sequência do primeiro confinamento geral, no volvido dia 9 de abril de 2020, António Costa, primeiro ministro de Portugal, declarou estar “em condições de assumir o compromisso” de entregar computadores a “todos os alunos do básico e do secundário”, “aconteça o que acontecer”, no entanto, a promessa claudicou. Porém, todos, sem exceção, admitíamos, na preparação deste ano letivo, que o E@D pudesse tornar a ser uma realidade.
 
No que diz respeito ao ensino, no início deste ano letivo, tudo era imperioso e intransponível, sendo exigido a todos um currículo inalterável, sem permitir que cada Agrupamento de Escolas (AE) se organizasse, apresentando um plano de contingência próprio, de modo a evitar, por exemplo, horários mistos. Foram várias as propostas dos diretores de AE rejeitadas. Tudo tinha que seguir o estipulado pela equipa do Ministério da Educação (ME), acrescida da implementação obrigatória de um programa de Mentoria, cuja operacionalização implica o envolvimento e interajuda de alunos, num ano em que é pedido distanciamento social.
 
Apesar de tudo isto, o senhor ministro da educação tem referido a importância de "não deixar ninguém para trás", no entanto, a falta de equipamento e de internet são obstáculos reais. De facto, constata-se que o ME não se preparou para esta realidade e não tinha um plano B. Tudo isto é ainda mais de estranhar, quando, todos sabíamos, que era previsível, tinha e tem a participação europeia no programa de apoio à “Escola Digital”. Esta é uma lamentável realidade, que não contou com a devida competência.
 
Nos primeiros anos de escolaridade, as Câmaras Municipais, na sua globalidade, foram além das suas obrigações no apoio prestado às famílias e aos alunos com necessidades de equipamento informático e internet. No ensino secundário, os alunos subsidiados, com os escalões A e B, foram abrangidos pelo programa “Escola Digital”, porém, as necessidades reais são outras. Cada AE tem vindo a ajudar os alunos com manifesta necessidade de um equipamento informático que lhe permita estar ativo no E@D, ora recorrendo a equipamentos que os alunos usam nas escolas, ora recorrendo também à colaboração das autarquias e das associações de pais e de encarregados de educação. De facto, o governo falhou.
Quando se fala tanto em flexibilidade, manifestaram-se, numa fase inicial, completamente inflexíveis e, agora, está tudo entregue a cada AE, desde a organização das aulas à distância, com meras indicações de circunstância por parte do ME, à entrega de equipamentos informáticos, como se não soubessem que a maioria dos estabelecimentos de ensino não tem resposta capaz, dado o seu obsoleto parque informático.
 
Nas atuais circunstâncias, assistimos, impávidos e serenos, a momentos de campanha política em diversas áreas, mormente na saúde, na economia e na educação, com anúncios públicos promissores, com augúrios de que algo vai acontecer de bom, mas que, volvido pouco tempo, constata-se que a realidade é bem diferente.
 
Enfim, “casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”, bem diz o provérbio, mas não havia necessidade disto em termos de educação, se a competência e a responsabilidade acompanhassem aqueles que apregoam o valor da tolerância. E assim, desta forma, se torna uma escola virtual numa virtual escola.

Texto publicado no dia 17 de fevereiro de 2021, no jornal ON ("Odivelas Notícias") (link)