sexta-feira, 16 de abril de 2021

In memoriam

"E também as memórias gloriosas”, assim consta no primeiro verso da segunda estrofe da Proposição de “Os Lusíadas”. Luís de Camões propõe-nos, de facto, que seja cantada a memória “Daqueles Reis”, bem como “aqueles” que fizeram obras valiosas, pois “Se vão da lei da morte libertando”. E assim é, estes é que ficam para a história e ficam na memória.

Neste contexto, é de referir que o nosso conhecimento está recheado por aquilo que temos conservado em termos de ideias ou imagens. Aquela lembrança que se perpetua no tempo, aquele monumento comemorativo que nos conduz a um tempo ido e nos desperta a curiosidade para o conhecer, a fama de alguém que sobrevive nos nossos dias. Neste contexto, por exemplo, centramo-nos na importância da memória para a construção da identidade, a nossa ou a de outrem, daí ser fundamental o regresso às origens com o intuito de renovar energias.

Evocar a memória dos nossos antepassados, quer como memória coletiva ou comunitária, quer como memória individual ou pessoal, é ato de honradez e de sobrevivência, pois, não só favorece a compreensão das novas aprendizagens, como também contribui para a interpretação do presente e para a preparação do futuro. Está nos livros tanta lição de vida e tanto exemplo de como se faz ou foi feito. Está nas estátuas e monumentos tanta determinação, esforço e sacrifício!

É imperioso não apagar a memória. Esta acompanha a História e é parte integrante de nós, de todos e de cada um. É de todo conveniente recordar para não esquecer, de modo a melhor organizar o futuro. Um povo sem memória desconsidera o passado, desrespeita o presente e compromete o futuro!

E que mais se verá? Num dia querem deitar estátuas ou monumentos abaixo! Noutro querem esconder com subterfúgios na lei (factos que prescreveram e afins) o que está à vista de todos.

E que mais se verá? Não podemos nem devemos, de todo, ficar indiferentes. Todos nós estamos convocados para combater este flagelo da (in)cultura e da (in)justiça. Nas escolas trabalha-se na formação de cidadãos responsáveis e com espírito crítico e apela-se aos valores da democracia, mas temos que exigir que o exemplo seja de todos.

É a hora de cada um de nós sair da sua zona de conforto e dar uma resposta cabal e cívica. Fala-se muito em participação, em cidadania e em democracia, e tudo isto parece um dado adquirido na sociedade em que vivemos, e até parece que é só para os outros, mas estamos todos convocados.

Texto publicado no dia 15 de abril de 2021, no jornal ON ("Odivelas Notícias") (link, p.26)