quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Santana Lopes: abandono do PSD!

Dado tratar-se de um histórico do PSD, com carácter próprio e convicto das suas posições, creio ser pertinente uma palavra acerca da sua saída. 

Compreendo a posição de Santana Lopes ao abandonar o PSD, uma vez que o partido muitas vezes não aceitou as suas propostas e muitas vezes o subestimou. Tendo ingressado no partido em 1976, dois anos após a sua fundação, foi um destacável militante, com voz ativa e por vezes incómoda, mas sempre frontal e leal para com os demais. Ofereceu inúmeras vezes “o corpo às balas”, não virando “a cara à luta”, tendo ganho umas vezes e perdido outras, pelo que acredito que, tal como o próprio referiu, foi um “abandono doloroso”, o do PSD. 

De facto, 42 anos são muito tempo, e ninguém tem dúvidas que Santana Lopes foi sempre do PSD e sempre defendeu o partido e as suas causas, apesar de também ser reconhecido por “enfant terrible” do partido. Deve ter sido uma decisão custosa, acredito, porém, simultaneamente, consigo compreendê-la, pois ninguém merece martirizar-se não se sentindo bem consigo próprio, embora respeitando as suas origens, as suas opções e a sua “família”. É tudo uma questão de princípios, de valores e de convicções. 

Após tamanha decisão, não há volta a dar! Cada um terá que seguir o seu caminho e todos terão que assumir as suas responsabilidades, sendo certo que nada será como dantes. É assim neste caso, foi assim no Brexit. Por falta de entendimento, de diálogo ou mesmo de aceitação mútua, tudo claudicou. 

Ainda no que diz respeito a Santana Lopes, enquanto militante do PSD e no exercício de funções públicas, convém salientar que não esteve envolvido, no que é publicamente conhecido, em qualquer situação de fraude ou de corrupção, nem tão pouco recebia, em 2016, “entre os 332 políticos que estão na lista daqueles que têm direito a subvenções mensais vitalícias”, de acordo com o “Observador”, a subvenção vitalícia a que tinha direito, tal como António Bagão Félix, do CDS-PP, Manuela Ferreira Leite, do PSD, ou António Vitorino, do PS. 

De qualquer modo, não é nem será o fim do mundo. Tal como numa grande parte de países europeus, é normal a existência de vários partidos políticos e com representatividade nos respetivos parlamentos, sendo que aquando dos atos eleitorais, muitas vezes, veem-se forçados a chegar a entendimentos para governar em coligação. 

Há ainda a referir que noutros tempos havia um só partido (com real poder), num outro momento proliferavam partidos políticos na esquerda, fruto da “intelectualidade de esquerda” que sempre gostou de se fazer ouvir e de apresentar determinadas posições, contrariamente a uma direita mais conservadora e silenciosa. Hoje vive-se um tempo novo, em que cada vez menos se “toca de ouvido” e se faz o que os outros querem ou mandam. Felizmente, embora ainda não tanto como desejável, pois ainda há muito medo, cada vez mais há pessoas a pensar pela sua própria cabeça e felizmente, no quadrante político da direita, também já há comentadores, líderes de opinião e como se vê, novos partidos. 

Face às atuais circunstâncias, reconhecendo que todos temos o direito de expressar livremente as nossas opiniões e que todos devemos respeitá-las, não me parece bem que quem exerce funções num determinado partido continue a exercê-las após ter garantido, em relação ao atual líder do PSD “Rui Rio vai ter oposição. Não vamos andar a fingir”, como referiu Carlos Abreu Amorim após o último congresso. Também, aquando do último congresso / diretas, na minha perspetiva, Luís Montenegro cometeu dois erros crassos: i) anunciar, em primeira mão, que iria deixar a Assembleia da República em abril, no congresso de fevereiro, o que denotou, no meu entendimento, falta de lealdade; ii) anunciar que iria ser candidato daqui a dois anos, quando se havia de viver um momento próprio para esse efeito, o que denotou, no meu entendimento, falta de coragem. 

Prefiro a honestidade de Pedro Duarte, volvidos seis meses do mandato da atual Comissão Política liderada por Rui Rio, ao manifestar-se disponível para disputar a liderança e assumir outra estratégia, sendo certo que, na minha opinião, esta tomada de posição foi um pouco extemporânea. 

Por uma questão de lealdade e respeitando a vontade da maioria, caso não concordemos com um determinado rumo, é nosso dever denunciar, mas, caso não nos revejamos na conduta, devemo-nos afastar por momentos, ou assumir a rutura, ou até sair. Na minha forma de estar, isto é preferível a pertencer a uma estrutura e estar a remar contra a maré. 

Por fim, uma última nota, nesta reflexão: 

Tolerância, diversidade, lealdade são valores a ter em conta. Importa, assim, num sistema democrático, aceitar o pluralismo político e um partido que não aceite as divergências de opinião dificilmente alcançará sucesso. Urge, por isso, saber respeitar a diversidade, visto que diferentes ideias em confronto, se bem geridas, resultarão, por princípio, num melhor fim e esta atitude é eventualmente melhor a ter várias pessoas a pensarem da mesma maneira. 

De qualquer modo, o que é certo é que cada um deveria enveredar pelo caminho da honestidade, lealdade, coerência, seriedade e carácter íntegro, todavia, para além de tudo isto, há ainda a manifestar a indignação face ao estado da política e de alguns políticos em Portugal, uma vez que o povo está cansado de os ouvir mentir! 

Da minha parte, quero manifestar o meu único compromisso com o PSD, a quem aderi de livre vontade. Nada mais.