quinta-feira, 4 de março de 2021

Desconfinamento responsável

Na sequência do atual confinamento geral, desde o dia 15 de janeiro, é deveras importante termos a noção do processo de desconfinamento, pois todos temos o direito de saber como vai ser feito.

António Costa, primeiro ministro de Portugal, referiu, no volvido dia 26 de fevereiro, que apresentaria o plano a 11 de março, no entanto, urge saber-se quais os critérios, tendo em conta o desconfinamento desajeitado a que estivemos sujeitos, no ano passado, repleto de incoerências, que ninguém consegue explicar e compreender, e na base do “quando dá jeito” ou no “sempre que possível”.

Neste momento, é pertinente saber-se com que número de casos, de internamento e de mortes, bem como do índice de transmissibilidade (Rt) do vírus SARS-CoV-2, é que se vai dar início a todo este processo de desconfinar.

Ao dizer que “será gradual”, não só não dá qualquer novidade, como também deixa em aberto a especulação e o receio de que voltemos a ver cometidos novos casos incompreendidos, como aconteceu no anterior. Ao dizer que “será gradual”, trata-se de uma verdade de La Palice!

Ao dizer que “é natural que se inicie o desconfinamento pelas escolas”, também não traz novidade. Importa saber se é nas mesmas condições do passado, que acabaram também por nos conduzir ao atual estado de confinamento. Tudo seria diferente se permitissem que cada Agrupamento de Escolas, tendo em conta a sua especificidade, se pudesse organizar, apresentando um plano de contingência, de modo a evitar horários mistos e com o respetivo acréscimo de funcionários, permitindo algumas aulas à distância no atual currículo.

Está provado que o confinamento geral resulta no combate à propagação do maldito vírus, mas também está provado que a economia e a psicologia ficam deveras danificadas. Assim, é imperioso saber-se já quais os critérios de desconfinamento, de modo a que cada um cumpra, de uma forma responsável a sua tarefa e mantenha viva a esperança de que tudo vai melhorar.

Neste momento, com os números a baixar consideravelmente, é importante termos noção de como iremos recomeçar uma nova vida, seguindo a sugestão reiteradamente apresentada de testar, identificar e isolar. Isto não pode continuar “sem rei nem roque”! Exige-se determinação, objetividade e competência, na gestão da coisa pública.

Temos o direito de saber já, e não a 11 de março, quais os critérios para um desconfinamento responsável. “Somos, socialmente, uma coletividade pacífica de revoltados”, bem nos diz Miguel Torga, mas até quando?
Texto publicado no dia 4 de março de 2021, no jornal ON ("Odivelas Notícias") (link)