No dia 14 de janeiro, os Professores conseguiram a segunda
maior manifestação de sempre em Portugal, desde o 25 de abril de 1974. E esta
esteve acima dos sindicatos. Foi muito mais espontânea, sendo que os
professores se organizaram por sua própria iniciativa e manifestaram-se em
Lisboa de uma forma ordeira, tranquila e exemplar. Aliás, como têm feito em
inúmeras escolas, dando uma grande lição ao país e aos sindicatos tradicionais.
Desta vez, a Fenprof não compareceu e ainda bem, pois após ter liderado o
processo naquela que foi a maior e denominada "Marcha da Indignação",
há sensivelmente 15 anos, no dia 8 de março de 2008, assinou com a então
Ministra da Educação um acordo contra aquilo que os professores pretendiam. Os
sindicatos associados à UGT também se mantiveram discretamente apagados, dada a
sua costela socialista. Valeu a espontaneidade dos professores que,
independentemente de serem ou não sindicalizados, se associaram à iniciativa
promovida pelo recente e ainda sem vícios sindicato S.TO.P.
Mas perguntam-me: “Qual a razão desta luta?”;“Porque se
estão a manifestar os professores?”. Como resposta, aponto três razões, para
mim, consideradas primordiais: 1. A falta de recursos humanos nas escolas para
apoiar efetivamente os mais necessitados; 2. A recuperação do tempo de serviço;
3. O modelo de gestão.
Ora, neste momento, assistimos, desalentados, exaustos e desmotivados,
à degradação da escola pública. Numa altura em que se apostou e bem na
massificação do ensino, há falhas evidentes nos recursos humanos a alocar nas
escolas para auxiliar no apoio efetivo aos mais necessitados, havendo menos
pessoal nas escolas para apoiar quem mais precisa. Numa altura em que foi feito
um enorme investimento nas instalações, designadamente através da apelidada “Festa”
atribuída à Parque Escolar, há falhas evidentes na velocidade da Internet e
lacunas nos equipamentos informáticos e nas diversas plataformas digitais
centralizadas na capital. Numa altura em que a burocracia ocupa tempos
infinitos na vida de um professor, há falhas evidentes no ato de ensinar
conhecimentos. Optou-se pelo facilitismo em detrimento do rigor e da competência.
Além disso, os professores também lutam para recuperar o que
lhes foi efetivamente tirado, pois há tempo de serviço roubado, num total de 6
anos, 6 meses e 23 dias.
Os professores têm anos de trabalho não contados e exigem a contagem completa
do tempo de serviço, pois não se consegue perceber como é que no mesmo país há
dinheiro para a TAP e para o BES, entre outros, e não há dinheiro para os
professores. Não basta elogiá-los pelo seu trabalho durante a pandemia. Todos
fazem sacrifícios, todos estão a ser explorados e é tempo de dizer Basta.
Ademais, como é que se compreende que os professores da Madeira e dos Açores
não tenham quotas e os do continente sejam vítimas de um travão na carreira
docente no acesso aos 5. e 7. escalões? Como é que se compreende que os
docentes das regiões autónomas já estejam em processo de recuperação do tempo
total de serviço e aos do continente lhes seja vedada tal direito? Exige-se uma
avaliação justa e sem quotas.
No que diz respeito à gestão escolar, atualmente um órgão unipessoal, deixa de
fora o princípio da democraticidade por parte dos professores e operadores
(pessoal não docente) que trabalham nos respetivos agrupamentos / escolas. Na
minha opinião, o diretor deveria ser eleito por todos os seus pares (professores)
e por todos os funcionários que trabalham na escola, bem como por um número
considerável de alunos e encarregados de educação.
Em suma, investir na educação é uma obrigação. Tenho dito.