segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Covid sem educação

Nas indicações tornadas públicas para o próximo ano letivo, a expressão "sempre que possível" surge cerca de 20 vezes nos documentos que chegaram às escolas, contudo há incongruências.

Acontece, porém, que, apesar das medidas anunciadas pelo ministério e na comunicação social (distanciamento social, aumento do crédito horário, desdobramento ou prolongamento do horário escolar, horário de entradas diferenciadas na/s escola/s, cantinas em regime de take away, aulas de Educação Física no final de cada turno), muitas delas não são viáveis, pois carecem de investimento e não se vislumbra tal aposta na educação.

Ora vejamos: Por um lado não há verba para colocar mesas individuais nas salas de aula, de modo a permitir o distanciamento, nem para aumentar o número de funcionários nas escolas, permitindo o prolongamento do horário. Por outro, há as "meias verdades", quer para se conseguir diferentes horários de entrada na escola, pois, em muitas, os alunos deslocam-se de autocarro e ficariam aglomeradamente à espera na entrada dos estabelecimentos de ensino, quer no que diz respeito às aulas de Educação Física no final de cada turno, dado que tal não é matematicamente possível para todas as turmas, quer no que se refere ao aumento do crédito horário, uma vez que o desconto de 50% em cada professor que integre o artigo 79 (redução da componente letiva para os professores que avançam na idade), quando se trata de um corpo docente envelhecido é uma falácia.

Como se tudo isto não bastasse há ainda a salientar a hipótese de take away nas cantinas e o facto de que os professores e assistentes, até aqui, considerados doentes de risco deixarem de ter qualquer salvaguarda e, na eventualidade de não poderem trabalhar, terão que recorrer a um atestado médico.

Por fim, há a referir a rejeição, por parte do governo, à proposta de redução de alunos por turma e à autorização de pequenas alterações no currículo, reduzindo o número de aulas presenciais por semana.

Em termos de educação, bastaria que permitissem que cada AE se organizasse apresentando um plano de contingência, de modo a evitar horários mistos, com o prolongamento do horário de funcionamento das escolas e com o respetivo acréscimo de funcionários. Mais que vergonha. Inadmissível! Revoltante!

Texto publicado no dia 10 de setembro de 2020, no jornal ON "Odivelas Notícias" (link)