sábado, 22 de outubro de 2011

Direito à indignação

Num tempo em que os portugueses compreendem o pedido de sacrifícios e estão disponíveis para contribuir, é fundamental que o Governo explique, claramente, quais as razões que levaram a tomar as medidas duríssimas que está a implementar e que, também de forma equitativa e proporcional, distribua os sacrifícios por todos os portugueses.

Sabendo que os portugueses estão recetivos para mudar Portugal, como se compreende: i) que não terminem de imediato com as mordomias vigentes? ii) que não se identifique ao mais ínfimo pormenor o porquê de tudo isto, nomeando os verdadeiros responsáveis? iii) que não se comuniquem de uma forma clara medidas que abranjam todos os portugueses? Iv) que se tire dinheiro aos contribuintes cumpridores, em vez de começar por tirar ao próprio estado?
Já todos percebemos que nada poderá ser como dantes e que não podemos viver acima das nossas possibilidades, mas porque é que se viram sempre para o mesmo lado? Respondem-nos que é mais eficaz, mais imediato, mais direto. E volta a perguntar-se: mas será a forma mais justa? Serão uns filhos e outros enteados? Porventura, os funcionários públicos - (polícias, professores, médicos, entre outros funcionários na área da educação, da saúde, da justiça, da administração pública...) serão os parasitas (aqueles que vivem à custa dos outros) da sociedade? Serão estes funcionários os verdadeiros culpados do verdadeiro estado de sítio a que chegou Portugal?

Contudo, há ainda outras razões para as pessoas estarem indignadas:
1. porque não chamam os responsáveis para serem julgados?
2. porque não anunciam, simultanemamente, medidas (também eficazes, imediatas, diretas) como:
2.1.) reduzir dois deputados por círculo eleitoral na Assembleia da República, bem como do número de assessores na Assembleia da República por deputado;
2.2.) acabar de imediato com as várias reformas por pessoa, do pessoal do Estado, permitindo apenas que cada cidadão receba uma só reforma e que o valor máximo seja de 3.000 euros;
2.3.) acabar com os ordenados acima dos do PR ou PM para os gestores de empresas públicas;
2.4.) eliminar os cartões de crédito ilimitado para servidores do estado;
3.) porque não nomeiam as fundações e institutos públicos a extinguir.

Se é certo que todos concordam que é melhor descer salários do que despedir, também todos sabem que há contas a fazer relativas aos gastos desnecessários do estado.

A verdadeira questão não está na essência da medida – retirar os subsídios de Natal e de férias -, está no desequilíbrio face aos restantes portugueses. Está a criar-se um estigma face aos funcionários públicos verdadeiramente desrespeitador.

Concordo plenamente com Pedro Passo Coelho quando diz que "As medidas são minhas, mas o défice que as obriga não é meu", contudo nós merecemos um esclarecimento pleno da situação. Revele-se de uma vez por todas o buraço do BPN, da Madeira, das parcerias público-privadas e da má gestão socialista dos últimos anos.

Não se consegue reformar Portugal contra as pessoas!
Preocupa-me a fraqueza da palavra dada.


In jornal Cardeal Saraiva, 21 de outubro de 2011

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