quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A escola paralela

Um cidadão, nos dias de hoje, tem mais informações – sobre o universo, a tecnologia, as culturas de outros povos, as línguas, a literatura, a música, o desporto – através de experiências extra-escolares, tendo como comparação as aprendizagens formais. Neste contexto, importa considerar a relação com a chamada “escola paralela”, entre a educação formal e a educação informal.
Há estudos que provam que o contacto com a educação informal é superior, em termos de tempo, por parte dos alunos, ao da formal. Se por um lado a estimulação cultural externa é cada vez mais ampla, atrativa, penetrante e eficaz, constata-se, por outro, que a escola continua dissociada da aprendizagem extra-escolar dos alunos.
Admitindo a escola como um local de distribuição social de conhecimento, que permite aos cidadãos o acesso ao saber, pressupõe-se que seja previamente organizada e constantemente atualizada, pois estamos perante uma sociedade que impõe uma aprendizagem ativa, dinâmica e aberta ao meio, não se compadecendo com uma escola parada no tempo. Deste modo, é mais fácil compreender que hoje se exijam novas posturas e novas responsabilidades a todos os que intervêm (professores, funcionários, encarregados de educação e outros) e contribuem para uma melhoria do ensino.
Em termos das relações interpessoais, importa ter presente que os jovens mostram mais empatia por pessoas que lhe são semelhantes e da mesma faixa etária, do que por aquelas que não o são. Em termos cognitivos, os mecanismos utilizados pelos alunos para entender uma mensagem dos media não são os mesmos que utilizam face às mensagens do estudo, sendo de salientar que o carácter sedutor que a mensagem informal tem, dificilmente poderá ser acompanhado pela escola.
As características, quer dos meios, quer das mensagens, são diferentes nos meios informais e formais, exigindo aos alunos diferentes posturas, dado que a mensagem dos media leva os alunos a uma atitude de maior passividade, enquanto o ensino exige dinamismo, trabalho, seletividade.
Atendendo à educação informal, há ainda a ter em conta que a sociedade da informação (influência dos media, da nova tecnologia), por si só, não garante que os cidadãos fiquem a saber, nem tem uma avaliação crítica face aos seus conteúdos, isto é, o espírito crítico. Este tem que ser trabalhado apenas pela escola, pois não existe na educação informal.
Assim, o currículo escolar tem toda a vantagem em integrar as potencialidades dos meios de difusão extra-curriculares, aliando-se a outros co-educadores, de modo a estabelecer a continuidade e a integração das solicitações educativas.
Ninguém tem dúvidas em concordar que a actual sociedade assenta num conjunto de valores que desencorajam o estudo e promovem o insucesso escolar. Diversão, Individualismo e Consumismo, três valores essenciais na sociedade atual, são em tudo opostos ao que a escola significa: atitudes refletida, procura incessante do saber e de valores.
Em suma, pretende-se uma escola que desenvolva uma cultura de participação, que saiba partilhar a educação com a família (principal entidade, responsável pela educação), com o pessoal não docente e com a comunidade envolvente, a fim de todos poderem contribuir para o desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade dos indivíduos, tornando-os cidadãos mais responsáveis e livres na sociedade, sendo imprescindível que cada um se sinta parte integrante da escola.


In Cardeal Saraiva, 7 de Outubro de 2011

1 comentário:

profana disse...

Excelente reflexão professor.