quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Campelo e Orçamento

Ao conhecermos a posição de Daniel Campelo, presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima (CMPL) e deputado da Assembleia da República Portuguesa (AR), em relação à votação do Orçamento Geral de Estado devemos procurar as causas e reflectir sobre os efeitos. Dadas outras situações no concelho de Ponte de Lima, não é de estranhar a sua postura.

Em 1998 a CMPL adquiriu um terreno de 8.680 m2 por cem mil escudos junto ao Rio Lima. Um mesmo procurador vendeu à Câmara Municipal um terreno, com 8.680m2 por apenas 100 mil escudos e vendeu um outro terreno a uma empresa numa freguesia, onde a zona está classificada como “outras áreas agrícolas”, com o projecto aprovado e sem a prova de titularidade, contudo a Câmara Municipal já havia feito o averbamento do projecto em 15 de Dezembro de 1997. Deste modo podemos depreender a apetência do Sr. Eng.º Daniel Campelo para o negócio e para as contrapartidas.

Em 1999, o senhor presidente da CMPL deu cobertura política, ao reiterar toda a confiança a Gaspar Martins, numa questão que nada dignificou a credibilidade da edilidade que representa. O vereador a tempo inteiro, com pelouros atribuídos pelo senhor Presidente da Câmara, foi alvo de um mandato de condução por parte do Tribunal Judicial de Ponte de Lima a fim de ser ouvido pelo juiz, mas ausentou-se da sua residência e da Câmara Municipal e, com esta atitude, conseguiu a prescrição e arquivamento de um processo crime em que era indiciado, impedindo a acção da Justiça. Assim se constata a falta de respeito por valores e Instituições.

Em 2000 confundiu por duas vezes as funções para as quais foi eleito. Primeiro, como deputado da nação, eleito por um partido político, aproveitou-se da Assembleia da República para usar um protagonismo desmedido e descabido aquando do jejum por causa do queijo que infelizmente não voltará para Ponte de Lima devido à inoportunidade das medidas. Agora, numa questão nacional como é a do Orçamento de Estado decidiu “olhar para o seu umbigo”, abdicando da convergência democrática proposta pelo seu líder, não ligando às directrizes nem às regras da votação do partido que o elegeu.

Nas últimas eleições presidenciais, o agora deputado, contrariamente à maioria do Partido Popular, esteve ao lado do actual Presidente da República em detrimento do Prof. Cavaco Silva. Nas últimas autárquicas convenceu diversos Presidentes de Junta de outros partidos a concorrerem como independentes.

Estes factos e estas atitudes não condizem com os valores adequados a quem tem responsabilidades públicas e políticas, muito menos com um partido dito democrata-cristão e tido como conservador.

A tomada de posição do Sr. Eng.º Daniel Campelo, por um lado revela um espírito mesquinho e uma “esperteza saloia”, por outro denota a falta de capacidade de negociação deste governo com os partidos políticos e, por outro ainda, leva-nos a admitir a capacidade de ambos para “negociatas” medíocres que levantam suspeitas de corrupção.

Alguém tem dúvidas que esta situação é fruto de contactos anteriores entre membros do governo e este deputado da nação? Como é possível este Sr. Presidente da Câmara Municipal ter negociado com quem havia chamado de corruptos?

Será que estas atitudes se enquadram nos votantes que o elegeram? Poderá mesmo haver convergência democrática?

Onde está a ideologia partidária? Onde estão os valores de cidadania?

Qual será a verdadeira contrapartida?

Com pessoas desta natureza é difícil lidar e viver. Estes que fogem, que se trocam, que cometem ilegalidades e fazem negociatas são os nossos políticos. Realmente é preciso mudar de políticas e de políticos.

Em democracia é normal existirem partidos políticos. É um acto cívico ser-se militante de determinado partido político. Naturalmente que nem todos os cidadãos são militantes de partidos políticos, mas quer queiramos quer não a representação de cada um de nós na AR é feita através de deputados eleitos por cada um dos partidos políticos. É preciso dignificar a política.

Este tipo de atitudes em nada dignifica os cidadãos e o concelho Limiano. Nunca ouviram dizer que o exemplo vem de cima? Nunca ouviram dizer que perdemos a razão sempre que levantamos a voz? Apelo à sensatez e ao civismo!

J. Nuno Vieira de Araújo
In Público, 07Nov.2000

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