quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Viana do Castelo: Um distrito dividido!

No âmbito da reforma da organização territorial, promovida pelo governo, onde se prevê a formação de áreas metropolitanas, comunidades urbanas e intermunicipais, assistimos à criação de duas comunidades no distrito de Viana do Castelo, uma urbana e outra intermunicipal.
Por um lado, o governo, através do secretário de Estado da Administração Local, apela à congregação dos vários municípios, referindo que a divisão no distrito de Viana do Castelo "não é positiva", por tratar-se de "uma das zonas do país com menor índice de desenvolvimento", tendo chegado mesmo a declarar que "não se deve nascer torto". Por outro lado, os presidentes das Câmaras Municipais esgrimem argumentos para que não haja consenso e convergência de modo a unir o distrito numa só comunidade.
Numa entrevista à NTV, no passado dia vinte e sete de Janeiro, em que estiveram presentes os senhores presidentes das Câmaras Municipais dos Arcos de Valdevez e de Melgaço, respectivamente presidentes das actuais Associações dos Municípios da Valima e do Vale do Minho, bem como os senhores presidentes da Associação Industrial do Minho e da Região de Turismo Verde Minho, pudemos constatar que todos defenderam a existência de uma só comunidade, com excepção do primeiro interveniente aqui mencionado.
O senhor presidente da Câmara Municipal de Melgaço defendeu a criação de uma só comunidade e disponibilizou-se para integrar a Comunidade Urbana da Valimar, tendo declarado estar a fazer esta proposta em sintonia com os seus colegas de Paredes de Coura, Monção, Valença e Vila Nova de Cerveira, tendo acrescentado que o senhor Governador Civil do distrito também se revia nesta posição. Na resposta, o senhor presidente da Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez, embora tenha referido que a Valimar era uma "comunidade aberta", não aceitou a oferta, tendo argumentado não ter nenhuma procuração dos seus homólogos de Ponte da Barca, Ponte de Lima, Viana do Castelo e Esposende, actuais membros da Valimar. Declarou que o processo da Valimar, já iniciado, "não é uma questão politico-partidária", no entanto, foi ambíguo no esclarecimento do que defendia para o distrito nesta matéria.
É difícil convencer sem argumentos fortes, mas se, de facto, se considera importante serem dez ou onze municípios, deve fazer-se com que tal aconteça! Na política, deve haver clareza e convicção profunda, pois basta de fazer de conta e de tentarmos enganar ou mesmo de sermos enganados.
Na entrevista atrás mencionada, o senhor presidente da Região de Turismo, além de ter avivado a memória de muitos ao dizer que esta Região de Turismo era constituída por todos os municípios do distrito, bem como dos municípios de Barcelos, Esposende e Terras de Bouro, do distrito de Braga, informou que todos se têm entendido bem e que o trabalho tem sido profícuo, e disse esperar que a formação das comunidades não seja um factor desestabilizador para a região.
O senhor presidente da Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez recordou que, aquando do PRASD (Programa de Recuperação de Áreas e Sectores Deprimidos), estiveram todos juntos, estando certo que, no futuro, quando houver interesses comuns, também estarão.
Tudo isto é caso para perguntar: Porque não se juntam, agora, no essencial, para distinguirem, depois, o acessório? Se não é uma questão politico- partidária, então o que é? Porque é que o senhor presidente da Câmara Municipal de Melgaço, num distrito em seis Câmaras são do PS, três do PSD e uma independente, obteve o parecer favorável de todos os seus homólogos socialistas, com excepção do de Viana do Castelo? Será devido a "antagonismos pessoais" entre os presidentes das Câmaras de Melgaço e de Viana do Castelo, como referiu o deputado Honório Novo? Não será esta uma visão mesquinha da região?
Isto faz lembrar a história do gato escondido com o rabo de fora. Lá que há qualquer coisa, há. Agora, o quê? Só eles sabem. Mas, sejamos claros e lembremo-nos que o lema dos políticos deve ser servir e não servir-se.
Ainda estão a tempo, pois o prazo só termina em 31 de Março.

J. Nuno Vieira de Araújo
In Cardeal de Saraiva, 13Fev.2004

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