quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Que falta de educação!

Actualmente o conceito de Escola passa essencialmente por cinco itens: creche, hospital, manicómio, casa de misericórdia e por fim escola.
1. Creche ou lar de crianças. Um grande número de encarregados de educação quer entregar os filhos e as responsabilidades na escola, considerando-a como o depósito dos adolescentes. Os pais, nos dias de hoje, em que ambos trabalham, começam a sentir verdadeiramente que os filhos existem por volta dos seus 8 anos, quando estes exigem dos pais atenção e o que os outros têm. Até lá só têm tempo para os filhos um pouco à noite, se não houver futebol, novelas, cansaço, depressões, ... O poder político responde com um ensino virado para trabalhos de projecto nas turmas, estudo acompanhado, educação sexual e para a cidadania sem definir a sua essência.
2. Hospital. Os alunos agridem-se mutuamente, caem, tropeçam, e recorrem aos auxiliares da acção educativa e aos professores. Alguns pais enviam-nos doentes ou por tratar. Muitas vezes são enviados para o hospital, outras tantas são socorridos na escola. Esta pede técnicos de saúde e o poder político responde com a criação de protocolos. Neste momento, pergunto: quantas escolas têm estes técnicos?
3. Manicómio. As escolas com a massificação do ensino recebem toda a espécie de alunos, rapazes e raparigas, o que não merece contestação. No entanto, há alunos violentos, desequilibrados, com necessidades educativas especiais e outros membros da comunidade educativa que precisam de apoio psicológico. As escolas pedem-nos e o poder político promete-os. Neste momento, pergunto: quantas escolas têm estes técnicos?
4. Casa de Misericórdia. A miséria material e a degradação humana também entram na escola. Só quem lá vive consegue quantificar estas situações, os outros apenas podem imaginar e, por isso, alguns chegam mesmo a afirmar que tudo isto é um exagero. As escolas solicitam auxílio e o poder político responde com a criação de protocolos, mas ninguém os consegue assumir. São necessários assistentes sociais. Neste momento, pergunto: quantas escolas têm estes técnicos?
5. Finalmente, escola ou local de ensino-aprendizagem. Os professores foram instruídos pelas faculdades para leccionar. Estudaram o que diz respeito à área que optaram e tiveram mesmo aulas de didáctica, mas ninguém os preparou como técnicos de saúde, psicólogos, assistentes sociais. Vive-se da carolice. A escola manifesta estas preocupações e o poder político responde com a criação de protocolos e com a autonomia.
Fala-se em protocolos - a maioria dos centros de saúde não têm disponibilidade; a protecção de menores não tem capacidade de resposta; a autarquia não se sente como verdadeiro parceiro, certamente por não estar directamente vocacionada para a educação.
Fala-se em autonomia - a maioria ainda desconhece em que consiste.
Fala-se em tecnologia da informação e da comunicação, de educação sexual, de internet - não existem técnicos nas escolas; apela-se ao trabalho de todos os professores ou, se preferirem, de cada professor.
Nos debates políticos fala-se de economia e finanças, de subsídios e de aumentos das reformas, de obras públicas, um pouco de saúde, um pouco de justiça e não se fala de educação.
Por tudo isto, apela-se a uma vontade política séria e sugere-se a criação de um pacto de regime para a educação. É importante que se termine com a conversa, mas necessário é investir, investir, investir.

J. Nuno Vieira de Araújo
In, Jornal de Notícias (Página do Leitor), 19Nov.2001

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