quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Mais Droga? Não, Obrigado.

Ao permitirmos o consumo de determinados estupefacientes, estamos a aproximar as drogas do cidadão. Sabemos que os adolescentes e os jovens são mais influenciáveis que os adultos e, muitas vezes, vêem nestes um modelo a seguir. Deste modo, a proximidade de um indivíduo da droga facilitará a sua cedência e/ou aquisição. O que se passa com o consumo do cigarro e do álcool, aceite na sociedade na sua globalidade, poderá acontecer com o consumo de outras drogas mais pesadas e com consequências muito mais graves. Quase sempre, tudo se inicia num grupo de amigos com as chamadas drogas leves.

Um jovem que vê amigos ou adultos que lhe são próximos a consumir tabaco ou álcool tenta imitá-los, quando não vê excessos nem maus tratos. A preocupação reside em estupefacientes que ao serem consumidos exigem mais quantidade e outras qualidades para o consumidor. Assim se explica a passagem das drogas leves para as pesadas.

Actualmente, ao considerarmos um toxicodependente como um doente e não como um criminoso, como parece ser consensual em todos os partidos políticos, exige-se mais dos médicos e menos dos tribunais, por isso devemos dar mais condições aos hospitais e centros de saúde para o tratamento destes doentes. É necessário investir em centros de tratamento e numa boa informação preventiva para combater o aumento crescente de drogados, uma vez que estes são os primeiros a reconhecer que sem vontade própria é praticamente impossível deixar a droga.

O decreto-lei n.º 15/93 de 22, de Janeiro, refere o “importante papel que se reconhece à prevenção dirigida à informação, formação e educação” e apela “à maior articulação entre o papel do sistema judiciário e dos serviços e organismos de saúde pública, especificamente na parte que é dirigida à prevenção e tratamento de toxicodependentes”, o que não contradiz o consenso referido no parágrafo anterior, daí considerar fundamental o investimento e colocar em segundo plano a legislação que alguns pretendem ver aprovada à força.

Através de pequenas coisas conseguiremos alcançar as grandes. Do pouco se fará muito. Por que não acabam com os “moedinhas” de vez? Por que não investir seriamente em centros de apoio e tratamento? Por que não reunir numa penitenciária todos os drogados que estão presos, seja qual for o seu delito? Por que preferem os valores económicos aos valores humanos?

Embora considere que não há vontade política para resolver este problema, dado o valor comercial inegável que lhe está subjacente, “mais vale reflectir antes de agir do que lamuriar-se depois da acção”, como diziam os clássicos. Cada vez mais, digo não à descriminalização da droga. Seria bom conseguir-se o maior consenso possível.
José Nuno Araújo
In, Jornal de Notícias (Página do Leitor), 19Nov.2000

Sem comentários: